Chris standing up holding his daughter Elva

A recuperação da economia global vem perdendo força, mas não foi interrompida mesmo com os efeitos da variante delta da Covid-19. A avaliação é do especialista em análise macroeconômica Mauro Schneider. Formado em engenharia pela Escola Politécnica da USP e pós-graduado em economia pela FGV, Schneider falou a representantes do setor de transportes sobre a situação econômica do país. A palestra online, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) abordou os principais temas macroeconômicos.

Além de fazer uma avaliação dos investimentos sob o ponto de vista da análise conjuntural no Brasil e no mundo, Mauro ressaltou que, dentro do cenário internacional, sua expectativa é de que choques atuais, como o aumento do petróleo, sejam passageiros. Caso esses impasses não se resolvam a curto prazo, ou seja, até o final de 2022, e os investidores não se sintam confortáveis, pode haver uma perspectiva mais preocupante para o Brasil. “Daí, sim, seria um cenário ruim para o país, tendo em vista que entraria menos dinheiro aqui”, observa.

Mauro destacou também que, historicamente, as principais economias do mundo, como a Inglaterra e os Estados Unidos, estão acostumadas com inflação baixa. A persistência de um panorama diferente desse gera incertezas. As eleições e as turbulências políticas que ocorrem nos países vizinhos, na América do Sul, afetam o Brasil, porém o maior problema brasileiro é a polarização interna relacionada às próximas eleições presidenciais.

Para o economista, o momento é de monitoramento e acomodação, pois – com a pandemia sob controle e a evolução da vacinação – há mais segurança sanitária e a população economicamente ativa vai em busca de emprego. “E para a taxa de desemprego cair, o país teria de crescer”, relaciona.

Só que as perspectivas para esse crescimento têm sofrido deterioração por conta da alta da inflação, dos juros e do elevado nível de incerteza relacionado aos gargalos de produção. O especialista acredita que eventual racionamento de energia e risco de piora do cenário fiscal e político são elementos centrais. “Dependemos de reformas e de políticas econômicas sustentáveis em médio prazo. É isso que indicará as chances de termos crescimento mais forte ao longo dos próximos anos”, conclui.


Confira a seguir um pouco do pensamento de Mauro Schneider na perspectiva do setor do transporte:

Recentemente, lançamos aqui na CNT um trabalho sobre investimento e financiamento de longo prazo. A instabilidade econômica atual pode prejudicar a atração de investidores para o programa de concessões?

Falando de investimento, lamentavelmente, vivemos o pior dos mundos. A gente não tem investimento público por falta de horizonte político e econômico de longo prazo, além do abandono radical e completo do papel de catalizador por parte do Estado. Alguns setores avançam brilhantemente, investindo e crescendo, nacional e internacionalmente. A agricultura e a fabricação de aviões são alguns deles – mas são os mesmos de sempre. Agora, o investimento estrangeiro direto nunca esteve fora do nosso mapa. Ao contrário, houve anos de volume expressivo de recursos entrando no país, mesmo com impeachment de presidente, recessões e turbulências. Isso mostra que, em condições minimamente normais do mundo, o Brasil continua sendo muito atrativo para o capital internacional. Nosso potencial de crescimento continua e continuará sendo muito grande. Ainda há espaço para atrair investimento. Além disso, há uma razoável consciência no exterior de que, pelo menos do ponto de vista de risco de pagamento em moeda estrangeira, o Brasil não se compara mais aos países verdadeiramente vulneráveis e frágeis. Em resumo, a gente perde sim, mas não muito.

Como o senhor falou, o teto de gastos do governo vai ter de ser discutido e trabalhado. Seria o caso de trazer o investimento para a infraestrutura com um regime especial de teto? 

Do ponto de vista realista, essa é uma boa proposta. Quando o teto foi criado, em 2016, ele tinha dois objetivos: frear o aumento da despesa da União e forçar os políticos a rediscutirem a estrutura de gastos, visando diminuir a rigidez do gasto público. O primeiro foi atingido. Já o segundo ainda demanda um maior esforço e conscientização por parte da classe política. 

Diante das perspectivas econômicas, o que o transportador deve esperar de 2022?

Tudo correndo bem, a volta plena da normalidade da atividade econômica deve se dar no fim de 2022. Os segmentos de transporte ligados ao que foi perdido durante a pandemia, como a mobilidade de passageiros, devem ser reativados ao longo do próximo ano. Quem, por outro lado, pode parar de crescer um pouco são os conjuntos de serviços ligados a transporte de bens, pois foram beneficiados pela pandemia com o aumento da aquisição de produtos, o que movimentou a indústria e o transporte de cargas.

O senhor acredita que o e-commerce tende a arrefecer e, consequentemente, o setor de transporte que atende esse segmento?

O e-commerce teve um ganho de penetração muito grande e acho que isso não volta. Ele está entre os segmentos que deram um salto. O crescimento das entregas urbanas nesses últimos tempos foi estupendo. Recentemente, fiz uma palestra para representantes do setor de veículos, que produz automóveis e motocicletas, e as projeções para estas últimas é de crescimento contínuo. 

No cenário oposto a isso está o transporte de passageiros urbano que, com o isolamento social, sofreu queda no movimento e, consequentemente, no número de empregos. Como o senhor avalia?

Essa perda deve ser quase integralmente revertida. As pessoas que representam o público majoritário de transporte público – por exemplo, ônibus, metrô e trem – são aquelas que, normalmente, moram longe do emprego e que não conseguem trabalhar em home office, comprar e consumir remotamente. Talvez surjam novas modalidades de transporte, como o compartilhado, que venham a atrair as novas gerações.

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