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Enquanto a atual fuga de investimentos financeiros da Rússia pode beneficiar o Brasil, fatores como inflação, escalada da taxa básica de juros e volatilidade cambial demandam cautela. No setor de transporte, os desafios estão relacionados à insuficiência de recursos públicos e privados para a ampliação e melhoria da infraestrutura e à elevação dos preços dos combustíveis, que se agravou com a guerra entre Rússia e Ucrânia. A avaliação é do especialista em economia e análise política, Ricardo Ribeiro, ao falar a representantes do setor de transportes sobre macroeconomia e o atual cenário político na Confederação Nacional do Transporte (CNT), esta semana.

Nesse cenário de incertezas para o setor produtivo, 2022 tende a ser um ano desafiador, inclusive para o transporte. “Um ano de crescimento, porém menor do que se previa por causa do conflito na Europa. Para o mercado brasileiro, neste primeiro momento de fluxos financeiros, o conflito tem um efeito positivo ao desviar investimentos que eram aplicados anteriormente na Rússia”, aponta Ribeiro. Soma-se a esse quadro a valorização do real frente ao dólar. “Mesmo assim, a taxa de câmbio no Brasil continua muito elevada, apesar do aumento de preço das commodities”, pondera.

As falas do especialista foram ancoradas no acompanhamento de índices e medidas econômicas e sanitárias, especialmente no que diz respeito ao Brasil. “O país está bem na cobertura vacinal. Avançou bastante e já tem mais de 70% da população completamente imunizada e mais de 30% com dose de reforço. Isso faz com que a pandemia deixe de ter efeito negativo sobre a atividade econômica neste momento”, completa.

O especialista afirmou que o transporte tem dado sinais de vigor, fato constatado pelo bom desempenho do setor em 2021 ao se destacar como ator-chave no desenvolvimento da atividade econômica do Brasil, mantendo a evolução do emprego e do volume de serviços. Tal cenário corrobora o balanço da CNT, anunciado no início deste mês, que traz a análise das informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Para Ribeiro, a frágil situação fiscal é o que assusta o mercado e gera desconfiança no momento, pois não se sabe até que ponto os gastos das contas públicas brasileira serão de cunho mais político daqui para frente. Nesse sentido, o economista cita um dos atuais percalços do setor do transporte: o preço do petróleo. “Olhando para a proximidade das eleições, o cenário de posicionamento é de desconforto em relação à paridade de preço internacional”, diz. Ele ressalta que é preciso levar em conta o risco de mudanças na política de precificação dos combustíveis. “Na prática, não dá para romper a paridade a curto prazo, senão pode faltar diesel”, adverte.

Confira, a seguir, algumas das opiniões de Ricardo Ribeiro na perspectiva do setor do transporte:

Com tantos fatos expressivos e impactantes em evidência: proximidade das eleições, guerra, alta do diesel, crise, que conselho econômico o senhor teria para o transportador?

Em primeiro lugar, é provável que este ano seja de retomada e recuperação para o transporte, mas exige cautela nos custos e no investimento. O arrefecimento da pandemia e a maior mobilidade social são fatores que favorecem o transporte, e os indicadores do setor mostram isso. Agora, combustíveis podem ser o grande entrave, por causa da incerteza externa que pode limitar a recuperação do setor. O Congresso Nacional e o governo brasileiro podem mitigar os efeitos da alta do petróleo, mas não conseguem evitar totalmente esse impacto.

O senhor acredita que é dado o momento de o setor de transporte ampliar a atenção a outras fontes de energia?

Sem dúvida. A transição energética se acelerou com as consequências da guerra, tanto para a Europa quanto para os Estados Unidos, e isso mostra a necessidade de o Brasil também reduzir sua dependência de combustíveis fósseis.

E o Brasil é um país promissor como fonte de energias alternativa e renovável?

Sem dúvida. Temos o histórico do etanol como fonte de energia. É preciso que o setor do transporte invista em outras condições, como veículos elétricos aproveitarem a energia eólica, que está crescendo muito no Brasil e tende a crescer ainda mais – inclusive com o uso de plataformas no oceano para obter abastecimento a partir da força do vento. Também existe a possibilidade de uso do biometano. Enfim, o momento serve de incentivo para o setor repensar a matriz energética e acelerar sua transição.

Com a perspectiva de redução da inflação acumulada no segundo semestre, é possível que se recupere o crescimento, se o cenário conturbado não influenciar. O que é preciso fazer para que essa recuperação seja mais promissora e efetiva?

Primeiramente é preciso passar por uma estabilização macroeconômica. O que é possível, pois já passamos por isso antes. Mas o país não tem crescido de maneira expressiva há bastante tempo. Esse crescimento passa pelo investimento em educação e na qualidade do serviço público e infraestrutura. Uma combinação desses três fatores tende a fazer com que a taxa de crescimento potencial do país melhore.

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