Big data diz respeito à imensa quantidade de dados que vem sendo gerada a todo instante, de diferentes formas, e que podem ser uma valiosa fonte de informação
Big data é termo do momento. Ele diz respeito à imensa quantidade de dados que vem sendo gerada a todo instante, de diferentes formas, e que podem ser uma valiosa fonte de informação para aprimorar a gestão dos negócios e, com isso, os resultados das empresas. Nessa onda, muitas empresas começaram a contratar poderosas ferramentas de BI (Business Analytics), treinaram seus colaboradores para gerar gráficos, contrataram cientistas de dados na tentativa de incorporar esse elemento para a definição de estratégias. Mas o desafio vai além disso. Ele está na construção de uma cultura analítica nas empresas.
“Cultura analítica não é sobre tecnologia. A tecnologia ajuda, acelera e dá ferramentas para a análise. Mas o pensamento analítico tem a ver com as pessoas tomando decisões olhando para dados, não para tecnologia”, explica Ricardo Cappra, cientista de dados e pesquisador. Ele foi fundador de um instituto de pesquisa internacional e independente que investiga o impacto de dados no mundo, o Cappra Institute.
Construir uma cultura analítica envolve quatro pilares, segundo ele: pessoas, processos, regras e, aí sim, tecnologia. E requer que a organização entenda, com clareza, como os dados – e quais deles – podem contribuir para a tomada de decisão. Do contrário, podem trazer mais prejuízos do que benefícios.
“Tudo o que a humanidade produziu em dados até 2003, nós produzimos, hoje, em dois dias. Imagens, textos, áudios em formatos diferentes, tudo isso compõe o big data”, comenta Cappra. E as fontes são as mais diversas: informações pessoais, comportamentos, redes sociais, sistemas de gestão e até as coisas. Aliás, com a chamada IoT (internet das coisas), a geração de dados tende a crescer exponencialmente. É tanta, mas tanta informação, que as pessoas não têm capacidade de entender ou de absorver tudo isso.
O caminho, então, é transformar o big data em small data. Descobrir padrões e informações que estão disponíveis e como eles se relacionam ao negócio, explica Cappra. Na prática, a empresa precisa ter clareza nos seus objetivos, nas perguntas que quer responder com os dados, sob pena de afogar os tomadores de decisões em uma infinidade de números e de gráficos que podem tornar o processo decisório ainda mais complexo e oneroso. Outro risco é torná-lo mais suscetível a erros, já que dados podem ser mal interpretados ou utilizados na tentativa de confirmar ideias já pré-concebidas. Afinal, como se diz por aí, torturados, os dados confessam qualquer coisa que se queira.
Mas isso também pode ser bom, já que, se explorados de forma científica e alinhados aos objetivos de negócio, trazem valiosas informações. E é o uso da ciência que permite que uma empresa passe a tomar a decisões orientadas por dados – e não apenas inspiradas por eles. Isso ocorre quando são definidos métodos e modelos para as análises e todos, na empresa, passam a olhar para os números antes de definir as estratégias de negócios. Isso ajuda a reduzir a subjetividade na interpretação das informações.
Um desafio adicional, esclarece ele, é ter, na organização, profissionais com as habilidades necessárias para uma cultura analítica (e são mais de 200, enumera Cappra), que envolvem as áreas de negócios, ciências, tecnologia e análise.
Mas o que dizem os números? “O dado parece frio. Mas ele se refere ao comportamento humano. Desses dados, dá para gerar insights, melhores performances.”
Então, inicia-se um processo de evolução analítica, que vai deixando de lado o papel dos achismos e da intuição na tomada de decisão, para se apoiar mais na ciência. “Cultura analítica é quando os dados fazem parte do negócio. Eles geram melhores produtos, para mais consumidores, que geram mais dados e que demandam melhores análises. Pessoas, processos, aprendizado e tecnologia fazem parte desse movimento”, diz Cappra.
A mudança organizacional para uma cultura analítica depende dos seguintes fatores: tamanho da empresa (estima-se que, em uma empresa de até 100 funcionários, a mudança leve dois anos para ocorrer; e, em empresas com mais de 100 mil funcionários, a estimativa é de cinco anos).
Entre as barreiras para a transformação, estão: resistência à mudança cultural; dificuldade de se trabalhar em colaboração e com compartilhamento de informações; o negócio pode não estar pronto para as mudanças; falta de talentos com as habilidades necessárias para esse novo cenário; as práticas da empresa não suportam novos talentos; dificuldade em mudar.
Enfrentá-las passa por diversos fatores, entre os quais a superação da mentalidade de silos organizacionais (áreas que se comunicam pouco com as demais), desenvolver uma cultura de colaboração e uma estrutura de capital que suporte essa transição. Também é possível identificar pontos e pessoas mais adaptáveis a essa nova realidade para iniciar a implementação de um projeto dentro da empresa, além de buscar parcerias para desenvolver protótipos das ideias.
Os resultados não serão imediatos. Cappra explica que há cinco estágios até que a cultura analítica seja aceita pela maioria das pessoas: primeiro, vem a negação da utilidade e da viabilidade. Então, as pessoas começam a ficar curiosas. Daí, vêm as tentativas. Os colaboradores, então, ganham segurança e fica até difícil atender a demanda que passa a ser gerada por análise de dados. É quando as decisões começam a ser orientadas por eles e, aí, isso já está fazendo parte dos processos organizacionais.
Ricardo Cappra ministrou o workshop “Data driven leadership: big data Revolution no setor de transportes”, realizado pelo Sistema CNT – Confederação Nacional do Transporte, SEST SENAT e Instituto de Transporte e Logística nessa quinta e sexta-feira (11 e 12 de abril).
O evento foi promovido pelo SEST SENAT e destinado a representantes e executivos do setor. A ação é mais uma realizada pela instituição para a capacitação de gestores do transporte. “O objetivo é desenvolver e explorar o potencial do pensamento analítico para tornar o setor mais competitivo, para oferecer serviços cada vez mais customizados, com qualidade de eficiência”, disse o presidente da CNT, Vander Costa, na abertura do workshop.
Clique aqui e ouça a entrevista com Ricardo Cappra
Reportagem: Natália Pianegonda