Chris standing up holding his daughter Elva
Mesmo com constantes denúncias sobre as ações das quadrilhas que praticam pirataria nos rios da Amazônia, o olhar policial para o local ainda parece tímido. Criminosos vêm intensificando o modus operandi para furtar e roubar toda a sorte de cargas nos rios da região, especialmente combustível. Recentemente, só depois de ocorrer o maior furto de gasolina a uma embarcação que se teve notícias no Estado - com um prejuízo de mais de R$ 2 milhões e 642 mil litros furtados - é que um grupo de quatro assaltantes foi preso em Manaus (AM).

A operação Alfeu, da Polícia Civil, foi considerada exitosa pelos empresários da região, ainda que os bandidos tenham sido presos somente três meses após o ocorrido. Outros roubos e furtos de menor proporção, entretanto, nem sequer chegam a ser investigados, de acordo com donos das embarcações vítimas dos ataques. A própria polícia da região e o Ministério Público reconhecem que a estrutura de combate é insuficiente.

“Além de precisarmos de mais policiais, viaturas, lanchas e helicópteros, também esbarramos na dificuldade de obter imagens para a resolução dos crimes. Sem falar na própria internet, que não funciona, apresentando constantes problemas de sinal. Muitas vezes, enviamos equipes para o interior, mas nos deparamos com o impasse de comunicação com os nossos agentes”, admite o delegado Adriano Félix, da Delegacia de Roubos, Furtos e Defraudações, da Polícia Civil do Amazonas.

Outro problema da região é a má distribuição dos policiais. De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público do Amazonas, Weslei Machado, que atua em Coari, enquanto o local conta com somente 39 policiais para 100 mil habitantes, alguns municípios não tão estratégicos possuem menos habitantes e um efetivo que chega a 250 policiais. Coari é um dos pontos mais perigosos do Estado por ser rota dos piratas e de traficantes.

Segundo Machado, o pequeno número de profissionais dificulta ações preventivas e repressivas nos rios. “Nos últimos 12 meses, não houve nenhuma ação da polícia em Coari”, lamenta. Há oito meses à frente do cargo, ele explica que conseguiu detectar ações de dois tipos de criminosos. “Um grupo, mais organizado, possui armamento pesado, como fuzis que podem derrubar até mesmo aviões, coletes à prova de balas e embarcações com motores potentes. O outro é mais desorganizado, sendo composto por moradores das comunidades ribeirinhas. Geralmente, esses ladrões cometem pequenos furtos para atender às necessidades familiares”, explica. 

“Coari é tida como área vermelha. Lá, as embarcações têm que passar com escolta, senão são assaltadas”, alerta Alencar Júnior, presidente do Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas). Devido à gravidade da situação, o Ministério Público entrou com uma ação civil contra o Estado, em 2016, para aumentar o efetivo de policiais da região, assim como a estrutura de armamento, viaturas e barcos. 

No fim do ano passado, após a trágica morte de uma turista inglesa que estava andando de caiaque e foi estuprada e esquartejada por assaltantes que pensaram que ela estava trazendo drogas da fronteira, houve um pedido de intervenção federal no município. “Ao invés de acatar a demanda, o presidente do Tribunal de Justiça indeferiu com o argumento de que aumentar o policiamento iria trazer grave prejuízo à ordem econômica do Estado. Na prática, estamos à mercê da própria sorte por aqui”, lamenta o promotor.

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Competência


A Polícia Federal e a Marinha atuam na região quando provocadas, ainda que o combate a furtos e assaltos de piratas não seja competência dos órgãos. De acordo com o delegado regional executivo da Polícia Federal no Pará, Olavo Pimentel, em alguns momentos, ocorrem ações conjuntas com as corporações estaduais, mas elas são mais preventivas do que repressivas. 

“Temos 300 policiais federais no Estado para dar conta de todo tipo de infração. Gostaríamos que houvesse maior estrutura para esse tipo de investigação, com reforço ostensivo, bases integradas e auxílio no trabalho de inteligência. Mas as distâncias da região dificultam muito. Às vezes, um barco passa três dias navegando. Pelas próprias características locais, é impossível que tenhamos polícia com frequência nos rios amazônicos”, reconhece Pimentel. 

A Marinha informou que está presente nos rios da Amazônia Ocidental, cumprindo suas atribuições legais e atuando sempre em coordenação com os demais órgãos públicos na condução dos assuntos relacionados ao enfrentamento de atividades ilegais nas águas jurisdicionais brasileiras.

Rota 


A rota dos ataques na região envolve principalmente os rios Solimões, Amazonas e Madeira – nos Estados do Pará, Amazonas e Rondônia - a partir da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, tendo como principais pontos críticos as regiões dos estreitos e alguns municípios que beiram os rios. Os roubos e furtos são tão volumosos que chegaram a prejuízos de R$ 100 milhões, em 2016, segundo cálculos da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária). 

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Para o presidente da entidade, Raimundo Holanda, a investigação policial é difícil não somente devido à grande extensão territorial da Amazônia, mas, sobretudo, pela característica local dos rios, que possuem muitos braços, afluentes e igarapés. Sem falar no efetivo e na estrutura policial, ambos pequenos para atender às crescentes demandas locais. 

“Os roubos e furtos têm aumentado constantemente, e percebemos que as polícias não possuem condições de investigar de forma eficaz. Já solicitamos a presença da Polícia Federal a diversos órgãos do governo, mas até o momento não vimos uma ação mais efetiva de combate à criminalidade nos nossos rios. O furto de Manaus preocupa porque os assaltantes agiram não somente no interior, mas também às margens da cidade”, alerta. 

A Polícia Federal possui bases de atuação nos Estados, mas a sua atribuição originária é o combate ao tráfico de drogas, e não as ações dos piratas. Atualmente, esse tipo de investigação está a cargo dos grupamentos fluviais das polícias Civil e Militar do Amazonas e do Pará. Entretanto, eles contam com estruturas pequenas de inteligência para desvendar os crimes. A expectativa é que até o fim de março seja inaugurada uma delegacia fluvial em Manaus para auxiliar no suporte junto à área metropolitana e às regiões mais distantes.

A delegacia especializada da Polícia Civil só atuou no crime de Manaus pelo fato de ele ter ocorrido na cidade. Mesmo assim, a estrutura disponível foi de somente 30 policiais para toda a investigação. “A atuação dos empresários foi essencial para o sucesso da operação, uma vez que eles chegaram a fretar um helicóptero para que a polícia conseguisse localizar os criminosos”, afirma Alencar Júnior, do Sindarma.

 

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