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Os representantes do mercado de caminhão e ônibus estão otimistas com o cenário brasileiro. Com a expansão acima da esperada nas vendas do último trimestre de 2017, as projeções de crescimento no mercado de pesados para 2018 variam de 20% a 30%. Líderes em vendas de ônibus e caminhões no ano passado, a Mercedes-Benz e a MAN/Volkswagen estão incrementando suas linhas de produção para lidar com a nova perspectiva mercadológica. Em entrevista à Agência CNT de Notícias, José Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN/ Volkswagen, e Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas, marketing e peças & serviços da Mercedes-Benz do Brasil, citam a necessidade de renovação da frota e a melhoria da economia como os principais fatores que impulsionarão as vendas neste ano. Confira os principais trechos das conversas com os executivos.

O desempenho dos negócios de veículos pesados em 2017 foi uma surpresa para o setor? A que se deve essa recuperação? Afinal, a crise, na indústria automobilística, ficou para trás? 

José Ricardo Alouche - O desempenho dos negócios em 2017 era esperado, mas, na verdade, não teve uma expansão tão acima do previsto se considerarmos os 12 meses. No ano inteiro, o crescimento foi tímido em relação a 2016.  O último trimestre do ano passado, contudo, foi bastante emblemático. Nós crescemos no emplacamento diário, se compararmos janeiro com dezembro de 2017, na casa de 150%. Isso mostra realmente que o setor começou a ter recuperação. Parte dela se deve a mais uma safra de grãos recorde. Quando a gente considera somente o setor de caminhões, embora tenha sido um ano relativamente bom em relação a 2016, nota-se que ainda houve queda em 2017. Então, quando se analisa o mercado total, ele apontou um crescimento, embora tímido, mas já reverteu a curva de queda. 

Roberto Leoncini - As renovações de frota estão movimentando o mercado de caminhões no Brasil. Notamos isso especialmente em setores como agronegócio, logística, transporte de combustíveis e químicos, mineração e madeira. As licitações no transporte escolar e as renovações de frota nos segmentos urbano e rodoviário puxam as vendas de ônibus. Há claros sinais de retomada gradual da economia, e isso gera uma expectativa muito positiva no mercado de veículos comerciais.

Diante desse cenário de retomada do crescimento econômico, o que esperar de 2018 no âmbito dos pesados? Quais as projeções para ônibus e caminhões? 

Alouche - Este ano deverá ter um crescimento acima de dois dígitos. Se o PIB cresce, existem mais mercadorias circulando no país, portanto, a produção também cresce. Precisa-se então de caminhões para transportar os produtos e, naturalmente, também são necessários ônibus para levar as pessoas ao trabalho. Esse é um raciocínio bastante simplório, mas mostra que há uma aderência entre as duas coisas e, por conta disso também, a gente acha que o mercado terá essa recuperação em 2018. O setor de ônibus, que teve sérias dificuldades nos últimos anos por causa da falta de reajuste de tarifas, será fortemente aquecido. Além da necessidade de renovação da frota, as licitações de governos estaduais e federal, como as do programa "Caminhos da Escola", contribuirão para um volume comercializado superior ao do ano passado. 

Leoncini - Projetamos um crescimento de 30% nas vendas de caminhões no Brasil, em 2018. Para os negócios de ônibus, prevemos um aumento de 15%.

De que maneira as indefinições no cenário político, sobretudo por estarmos em ano eleitoral, podem afetar o mercado?

Alouche - A situação de instabilidade política, gerada nos últimos anos, afetou fortemente o nosso segmento. Agora, querendo ou não, o empresário está sendo obrigado a renovar a frota para proteger o patrimônio e os contratos, independentemente de qualquer situação política, salvo se houver alguma mudança dramática, seja para a direita ou para a esquerda, que sinalize uma interferência drástica na economia. O segmento de ônibus é fortemente impactado quando das eleições municipais, o que não é o caso deste ano.

Leoncini - O mercado brasileiro está em ritmo de crescimento. Vamos apostar nos resultados positivos que temos observado no segmento de veículos comerciais nos últimos meses. Com essa situação atual, esperamos que o próximo presidente do país mantenha o ritmo de recuperação da economia brasileira: inflação e juros controlados e maior disponibilidade de crédito no mercado.

Com a melhora nas expectativas do mercado, já há um esquema para ampliar a produção no país? O que a montadora reserva de novidade para este ano em relação a caminhões e ônibus? 

Alouche - Estamos trabalhando para ampliar a produção. Em termos efetivos, na nossa linha de produção em Resende (RJ), para se ter uma ideia, chegamos a produzir, até o ano passado, em apenas quatro dias por semana e num turno, com capacidade reduzidíssima. Diante das perspectivas de melhoria do mercado, já voltamos a trabalhar cinco dias por semana, ainda em um turno, mas, agora, um turno cheio, incluindo horas extras. Na questão específica do agronegócio, entendemos que o mercado continuará crescendo de forma bastante substancial, especialmente no primeiro trimestre deste ano. Deverá haver um incremento significativo no segmento de extrapesados. Estamos entrando num novo segmento de caminhões leves abaixo de 5 toneladas (ou um veículo de 3,5 toneladas), que é o novo Delivery Express. Já vendemos mais de 1.200 unidades de outubro para cá.

Leoncini - Com o aumento da demanda do mercado, a Mercedes-Benz está contratando cerca de 350 colaboradores para as fábricas de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG). Com relação a novidades, a empresa renovou toda a linha de caminhões. São mais de 30 novos recursos de tecnologia, conforto, segurança, desempenho e economia para as famílias Accelo, Atego, Axor e Actros. Cada linha de caminhão traz novidades derivadas dos pedidos dos clientes. Para o segmento de ônibus, introduzimos novas tecnologias, como o sistema de desligamento automático do motor e o módulo de recuperação de energia elétrica. Atendemos a todas as demandas dos sistemas de transporte coletivo urbano, como corredores, faixas exclusivas e BRT. 

A crise econômica, de alguma forma, modificou o perfil dos consumidores brasileiros? 

Alouche - Não houve, de fato, uma mudança de segmentação no mercado. O que houve, porém, foi um crescimento do extrapesado, uma vez que todos os outros segmentos estavam caindo e a agricultura impulsionou esse segmento, com crescimento de oito pontos percentuais. No caso do perfil do consumidor, o que modificou foi que, hoje, ele se preocupa muito mais com o custo de operação do veículo do que há alguns anos. 

Leoncini - O desenvolvimento dos sistemas de transporte de carga e logística independe da crise econômica. O foco em maior eficiência, otimização e redução de custos operacionais é permanente e envolve todos os agentes do processo.  A Mercedes-Benz, como fornecedora de veículos comerciais, oferece modelos cada vez mais econômicos e rentáveis, como também uma série de serviços que ajudam o cliente a obter um menor custo operacional nas atividades de transporte.

Mesmo enfrentando uma das mais rigorosas recessões econômicas, as exportações se mantiveram em alta, contribuindo para equilibrar a balança. Quais são os nossos principais mercados consumidores? E o que tem chamado atenção deles no mercado brasileiro?

Alouche - O produto brasileiro foi desenvolvido com uma robustez necessária para atuar num país que tem situações de rodovias diversas, sem gerar um custo extraordinário. As indústrias que aqui estão aprenderam a desenvolver esse produto num custo relativamente adequado para o cliente brasileiro. Assim, esse produto tem elevada competitividade em mercados semelhantes ao brasileiro, como Argentina, México e Chile. Esses países também estão em processo de recuperação econômica, o que impulsiona as nossas exportações. 

Leoncini - Somos a maior exportadora de veículos comerciais do Brasil e, em 2017, tivemos aumento de 11% nas vendas de caminhões e ônibus para o mercado externo. Entre os principais destinos dos veículos da marca, destacam-se a Argentina e o Chile.  A representação da exportação na produção saltou de 10% em 2014 para 40% em 2017. 

Podemos afirmar que os veículos brasileiros são mais caros? Até que ponto a carga tributária e problemas relacionados à regulação comprometem a competitividade do país?

Alouche - Eu não diria que os veículos brasileiros são mais caros, mas, sem dúvida alguma, a carga tributária os torna menos competitivos. Se otimizássemos os tributos, especialmente no nosso setor, poderíamos fornecer veículos muito mais em conta. Em termos gerais, daria para levar mais competitividade para esse cliente que usa o caminhão ou ônibus e, consequentemente, eles poderiam custar menos. É claro que não é simplesmente o país abrir mão de tributos. Além disso, a frota brasileira tem 17 anos de idade média. Se o impacto dos tributos nos caminhões fosse menor, certamente o preço poderia ser menor, o que facilitaria um programa de renovação de frota, algo altamente necessário.

O país tem registrado aumentos sucessivos nas ocorrências de roubos de carga. A indústria, de alguma forma, está atenta a essa problemática? No desenvolvimento das tecnologias embarcadas, é possível pensar soluções à luz dessa realidade?

Alouche - É justamente nesse ponto que o nosso país vai ter um desenvolvimento muito rápido e expressivo nos próximos anos. Não só no rastreamento da carga em si, mas também do próprio veículo. As montadoras estão trabalhando ativamente nessa questão. Existem determinados tipos de operação, como caminhões blindados e com segurança particular, que são inviáveis para a maioria das empresas. Nesse contexto, a MAN tem investido no rastreamento do veículo atrelado ao rastreamento da carga, quando o cliente assim necessita.

Leoncini - Para garantir ainda mais segurança no transporte de cargas, a Mercedes-Benz disponibiliza aos clientes o sistema completo de telemetria Fleetboard, que atua como rastreador e bloqueio remoto do veículo. O principal diferencial dessa tecnologia é que, por ser desenvolvido junto ao veículo, caso o sistema seja violado, o modelo é bloqueado instantaneamente.

No caso dos ônibus, segundo a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), nos últimos 13 anos, foram mais de 2.000 veículos incendiados, contabilizando aproximadamente R$ 1,3 bilhão em custos ao setor. Como as montadoras veem esse quadro? Hoje em dia, já são implementados produtos com menor potencial inflamatório?

Alouche - Essa é uma questão mais complexa do que a da segurança do veículo ou a da carga, porque tem o elemento do imponderável. A MAN tem investido bastante na tecnologia do rastreamento do veículo e na adequação à rota. Mas é muito difícil a montadora e as empresas complementarem uma ação de segurança contra, por exemplo, um indivíduo que entra no veículo munido de coquetel Molotov e coloca fogo lá. Por mais blindado que seja o ônibus, nele, existem combustível, parte elétrica, peças inflamáveis, plástico e tudo mais que não tem como controlar. É claro que chama atenção da indústria, tanto das montadoras de chassi quanto das encarroçadoras, desenvolver novos materiais e novas alternativas de componentes a fim de minimizar o problema, mas não para evitá-lo. 

Leoncini - Sobre esse tema, em 2015, a Mercedes-Benz lançou a campanha “Eu uso, eu cuido” nas redes sociais, com o objetivo de motivar o usuário a se sentir coproprietário do ônibus, além de disseminar na sociedade os efeitos prejudiciais à população com a queima de ônibus, que tira o veículo de circulação nas cidades. Essa é uma triste realidade que provoca não apenas prejuízos financeiros, mas principalmente sociais, uma vez que impede o ir e vir da população. Todos os ônibus Mercedes-Benz atendem às normas da NBR 15.570 que são as especificações técnicas para fabricação de veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros.
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