Chris standing up holding his daughter Elva
As mudanças feitas em algumas das regras para as concessões, como permitir maior participação estrangeira, reduzir os requisitos de conteúdo local, alongar o tempo permitido para preparar lances, são positivas e já resultaram em aumento significativo do interesse e boas ofertas financeiras.

Essa é a percepção de Martin Raiser, diretor do Banco Mundial para o Brasil. A instituição vem apoiando o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) na avaliação e estruturação de projetos. Em entrevista à Revista CNT Transporte Atual de outubro, o economista alerta que, apesar de algumas melhorias regulatórias no ambiente de negócios brasileiro, o momento ainda é de incertezas.

Doutor em economia pela Universidade de Kiel, da Alemanha, Raiser tem trabalhado em países em desenvolvimento desde 2003. Ele critica o baixo investimento, nos últimos anos, em infraestrutura por aqui, o qual, segundo ele, não é suficiente sequer para cobrir o custo da depreciação.

Nesse sentido, ele ressalta que o investimento e o financiamento privados podem reduzir os custos e gerar benefícios para os usuários, mas não são a solução para a queda de receita. Na conversa, ele também reforça a necessidade de haver projetos bem preparados, “resultantes de um bom exercício de priorização”, bem como classifica a tentativa do governo de aprovar, no Congresso, uma nova TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que financia a infraestrutura, como um sinal positivo ao mercado.

Qual é a percepção de risco que os investidores internacionais têm do Brasil? Em que medida a atual crise política interfere nas decisões de investimento?

O Brasil sempre foi um destino atraente para os investidores internacionais, devido ao seu tamanho, oportunidades de mercado e recursos naturais substanciais. Recentemente, também vimos um crescente interesse pelo setor de infraestrutura. No entanto, alguns investidores permanecerão em compasso de espera até que possam ter certeza de que as políticas atuais de melhoria das condições serão mantidas após as eleições. Outros podem decidir correr o risco em busca de vantagens relacionadas ao pioneirismo. Em outras palavras, a percepção geral é de oportunidades substanciais, mas os riscos ainda são consideráveis.

O país, mesmo diante de um cenário político de incertezas, vem passando por uma agenda de reformas e medidas visando à retomada dos investimentos e ao saneamento das contas públicas. Considera que, à luz dessas ações, o ambiente de negócios já dá mostras de melhoria?

Os esforços das autoridades para realizar as reformas ne cessárias são vistos com bons olhos pelo banco. O primeiro passo para a consolidação das finanças públicas foi a aprovação do teto de gastos. Agora, é preciso que sejam dados novos passos concretos para conter a pressão de gastos, como a reforma da Previdência, o controle sobre os salários de servidores públicos e a redução dos subsídios injustificáveis economicamente. As reformas microeconômicas também progrediram, incluindo medidas para reduzir o custo de abertura de uma empresa, facilitação do acesso ao crédito e redução de obstáculos ao comércio exterior. A Reforma Trabalhista também deve tornar mais fácil para o Brasil se adaptar a choques econômicos e criar novos empregos. Então, para nós, o copo está meio cheio. É necessário, no entanto, fazer mais para consolidar as reformas, particularmente no lado fiscal, de forma a garantir que o investimento retorne.

Recente estudo do Banco Mundial indica que o Brasil, nas últimas duas décadas, tem gastado muito pouco com infraestrutura em função de fatores como a má concepção e preparação de projetos e as incertezas regulatórias. Onde falhamos nesse departamento? Por quê?

De fato, as despesas de infraestrutura do Brasil flutuaram em torno de 2% do PIB, o que não é suficiente para cobrir sequer o custo da depreciação. Dadas as baixas taxas de poupança do país, tanto no setor público quanto no privado, não é realista esperar que o investimento em infraestrutura cresça substancialmente nos próximos anos. Em vez disso, é necessário um foco muito maior na qualidade do investimento. A falta de projetos bem preparados significa que os riscos não são bem compreendidos, levando a atrasos durante a implementação e, muitas vezes, aumentos substanciais de custos. Além disso, os investidores são desencorajados por incertezas regulatórias, e a preparação, contratação e governança de concessões e PPPs é dificultada pela pouca capacidade do governo. Nós estimamos que, apenas no setor de transporte, o custo da ineficiência pode chegar a cerca de 1,4% do PIB, o dobro do valor investido anualmente. 

Leia a entrevista completa na edição de outubro da Revista CNT Transporte Atual.

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